Mata Atlântica: desafios, alternativas e projeções para o futuro.


Postagem publicada originalmente em 2018 no nosso antigo blog.

A mata atlântica é um dos biomas mais exuberantes do mundo e possui uma das maiores diversidades biológica do planeta. Hoje, após 5 séculos de exploração, desde a ocupação europeia, resta apenas cerca de 15% de sua extensão original e, apesar dos avanços (e alguns retrocessos) da legislação ambiental brasileira, ela continua sendo reduzida.
Esse cenário é muito preocupante, dado a importância que a mata atlântica tem para o país em vários sentidos, desde os estritamente naturais: regulação do clima nas regiões em que ela ocupa, do regime de chuvas, da biodiversidade em si, rios e mananciais de água doce, biomassa, aprisionamento de carbono, etc. E também pelas questões econômicas: turismo, potencial farmacológico, bioprospecção, etc.
A mata atlântica está situada nas 3 regiões mais populosas e de fundamental importância econômica do país: as regiões Sudeste, Nordeste e Sul. O que acentua a sua fragilidade e potencial degradação dos fragmentos restantes.
Outro dado alarmante, é que o que ainda resta deste bioma está bastante fragmentado, dividido em centenas de pedaços, sendo a maioria desses fragmentos menor que 1 quilômetro quadrado. Toda essa fragmentação e redução de áreas de matas, leva a perda de diversidade e desequilíbrios ecológicos.
Estudos recentes mostram que, pelo menos ainda, não houve grandes processos de extinções em massa, apenas de ordem local (Espécies que não são encontrados mais em determinadas regiões que ocorriam comumente). Porém, vemos que animais de maior porte, como a onça-pintada, o porco-do-mato ou queixada, gaviões, harpia, cachorro-do-mato-vinagre, entre outros, vêm tornando-se cada vez mais raros. Isso se deve a perda de habitat e a caça predatória. (Para ver detalhes dos estudos apontados acima, leia esta reportagem).
Além dos problemas que a perda de habitats causa a estes animais, no caso das onças-pintadas, por exemplo, o desmatamento leva a redução no número de presas naturais que estes animais consomem. Nessa situação, é comum que a onça-pintada se aproxime de áreas de ocupação humana e passe a se alimentar de animais domésticos ou destinados ao abate. Isso gera prejuízos ao produtor rural que passa a caçar ou a deixar veneno para eliminar as onças que estejam próximas a sua propriedade.
Todo esse impacto aos predadores de topo de cadeia (alimentar) leva a aumentos no número de predadores do meio da cadeia e grandes impactos (redução) nas presas dos animais de grande porte. Isso, também, acaba refletindo na diversidade de plantas.
Várias espécies de árvores de mata atlântica dispersam suas sementes através de animais de maior porte e, na ausência destes, começam a reduzir o número dessas árvores. A falta de animais para levar essas sementes para longe da planta-mãe e o pequeno tamanho dos fragmentos restantes, aumenta a competição das plântulas que conseguem germinar com as árvores já estabelecidas. Reduzindo, dessa forma, sua taxa de sobrevivência.
Como o leitor pode ver, a situação do bioma mata atlântica é muito delicada e preocupante. É necessário, além de incentivo a pesquisa, ações mais concretas no manejo e ocupação dessas áreas. Além de legislação ambiental que proteja e fomente a recuperação desse bioma, é preciso que os estudos de impacto ambiental e o licenciamento ambiental sejam feitos de forma séria e com qualidade. Um dos aspectos que devem ser levados em conta, tanto pelos gestores ambientais quanto pelos órgãos responsáveis pela emissão das licenças, é a interligação entre os fragmentos de mata atlântica remanescentes, através de corredores ecológicos.
Esses corredores interligariam fragmentos não conectados, favorecendo a dispersão de espécies, vegetais e animais, e ajudariam a manter o fluxo gênico entre populações isoladas. Porém, o uso de corredores pouco adianta se estes não forem pensados em grandes escalas regionais. Ligar pequenos fragmentos locais é importante, mas é preciso pensar em nível de gestão do bioma. Por isso é necessário pensamento estratégico, de forma a potencializar os efeitos dos corredores, e cobrir grandes áreas. Seria interessante, termos corredores que ligassem grande parte dos fragmentos em um dado estado, conectando-se com de outros estados vizinhos. Formando-se uma grande rede de corredores ecológicos, aproveitando-se matas ciliares, unindo populações longínquas e facilitando a circulação de animais e dispersão de plantas.
Sei que o leitor deve pensar que isso é muito pretensioso, ou mesmo “sonhador”, de minha parte. Porém, seria possível se tivéssemos maior consciência ambiental como nação, e os estados e a União (Governo Federal) tivessem interesse nessa questão. Basicamente, ter isso como objetivo.
No entanto, se levarmos em consideração que recentemente o Brasil vem “pegando fogo” na política por sucessivos escândalos de corrupção, processo destruição da classe política por vários setores da mídia e ministério público, crise de combustíveis e o incentivo fiscal do governo para a utilização de combustíveis fósseis, abandonando de vez o investimento em outras formas de energia menos poluentes, vemos que isso está longe de acontecer. Se é que um dia ocorrerá. A legislação já prevê coisas parecidas, mas a fiscalização, a má qualidade de muitos relatórios ambientais, a falta de preparo e qualificação dos profissionais que são responsáveis por avaliar esses estudos nos órgãos responsáveis, faz com que isso se torne impraticável no momento.
Outras alternativas para, pelo menos, amenizar o problema seriam o fomento ao mercado de créditos de carbono, numa tentativa de incentivar produtores rurais a preservar áreas maiores de vegetação, e implementação de tecnologia e novas técnicas de cultivo que possibilitem um aumento de produtividade em áreas de cultivo menores.
Por fim, essas alternativas não parecem estar próximas de ser tornarem realidade e previsões sobre o que podemos ter de mata atlântica no futuro estão cada vez mais nebulosas.
Diego D. Dias, biólogo, mestre em ecologia de biomas tropicais e consultor ambiental na Vellozia Estratégia e Consultoria Ambiental.
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