Consultor ambiental: você faz os trabalhos bem feitos ou o barato nem sempre sai caro?


Postagem publicada originalmente em 2018 no nosso antigo blog.

Uma das discussões que vem crescendo em todo o mundo no campo da gestão em meio ambiente é a qualidade dos trabalhos de consultoria ambiental. Em vários países vem sendo constatada a ineficiência dos trabalhos de monitoramento de espécies, manejo, recuperação de áreas degradadas e estudos de impacto ambiental. Essas preocupações alertam para o fato de que esses trabalhos estão sendo realizados para atender a legislação onde os empreendimentos estão localizados, mas que do ponto de vista ecológico, muito pouco ou nada acrescentam.

Essa semana li os trabalhos publicados por uma colega do mestrado abordando justamente esse tema, voltado em especial para monitoramento de fauna (a referência destes trabalhos e o link para download estarão disponíveis abaixo). Em um desses artigos ela chama a atenção para a maior tragédia ambiental do Brasil: o rompimento da Barragem de Fundão em Mariana-MG (que completa três anos agora em novembro deste ano). Vários fatores contribuíram para a tragédia, mas dentre eles podemos destacar a avaliação equivocada dos impactos que a barragem poderia causar. Por sua vez, esse equívoco levou à medidas ineficientes de contenção dos danos ambientais. O resultado? Destruição de Bento Rodrigues, morte de 19 pessoas, várias comunidades afetas e uma destruição de 1775 hectares. Sendo que destes 835 hectares de áreas protegidas. Além da destruição de habitats no Rio Doce e em ambientes marinhos.
Já falei em alguns outros posts que a Legislação ambiental em nosso país é uma das melhores do mundo e, ainda assim, algo como a tragédia em Mariana aconteceu. Desconsiderando os problemas de fiscalização e acompanhamento dos programas de gestão ambiental, muitas vezes negligenciados pelos empreendedores após a obtenção das licenças, um dos fatores mais importantes para que os estudos ambientais sejam ruins vem dos próprios termos de referência fornecidos pelos órgãos ambientais do governo.
Estes termos de referência não possuem grande detalhamento quanto a metodologias a serem seguidos e padrões mínimos de exigência de procedimentos científicos e estatísticos. O resultado são estudos ineficientes que não contribuem para a preservação do meio ambiente e não servem como parâmetros para a tomada de decisões dos gestores ambientais.
Um cliente uma vez me perguntou, com certa irritação, por que havia uma variação tão grande nos preços de consultorias ambientais se o serviço solicitado era o mesmo? E o que justificaria tamanha variação. A resposta é que devido ao fato dos termos de referência serem tão genéricos, possibilita grande “liberdade” de metodologias a serem utilizadas pelos consultores ambientais. E metodologias de qualidade, em geral, custam caros e demandam tempo.
Dessa forma, em um mercado tão competitivo como é o de consultoria ambiental, a escolha é pelo estudo com menor custo para ser executado em detrimento do de melhor qualidade. Assim, infelizmente, os trabalhos de consultoria ambiental são apenas mera formalidade para obtenção de licenças e nada mais. Ou seja, grande perda de tempo e dinheiro!
Em um mundo cada vez mais preocupado com as questões ambientais e onde o marketing de sustentabilidade é tão importante, estudos ambientais malfeitos, além do potencial para ocorrerem verdadeiras tragédias do ponto de vista humano e ambiental, podem ocasionar grandes perdas em dinheiro e credibilidade para os empreendimentos. Algo que não pode ser deixado de lado pelo Consultor ambiental na hora de escolher qual metodologia vai utilizar e pelo empreendedor na hora de escolher qual consultoria vai contratar. Uma escolha errada pode significar o fim de uma empresa ou marca. Algo muito sério!
Por fim, deixo uma pergunta a todos nós Consultores ambientais: “Fazer sabidamente um trabalho de consultoria com a metodologia inadequada, é o caminho para um país e sociedade melhores?”. Vocês realmente gostaria de ter o seu nome associado a trabalhos de má qualidade? Não sei quanto a vocês, mas quanto a mim, é claro que não. Quero o melhor para mim, para minha empresa, para meu cliente e para a sociedade. A crise moral e ética que vivemos em nosso país, em grande parte, é por nossa culpa.
Diego D. Dias, biólogo, mestre em ecologia de biomas tropicais e consultor ambiental na Vellozia Estratégia e Consultoria Ambiental.
Trabalhos citados neste post:
DIAS, Amanda Monique da Silva; FONSECA, Alberto; PAGLIA, Adriano Pereira. Biodiversity monitoring in the environmental impact assessment of mining projects: a (persistent) waste of time and money? Perspectives in Ecology and Conservation, v. 15, n. 3, p. 206–208, 1 jul. 2017. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1679007316301505>. Acesso em: 19 set. 2018.
DIAS, Amanda Monique da Silva; FONSECA, Alberto; PAGLIA, Adriano Pereira. Technical quality of fauna monitoring programs in the environmental impact assessments of large mining projects in southeastern Brazil. Science of The Total Environment, v. 650, p. 216–223, 2018. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969718334004?via%3Dihub.
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