Você realiza coleta seletiva na sua casa? E no seu serviço? Infelizmente, é bem possível que sua resposta seja não. Um estudo contratado pela CEMPRE – Compromisso Empresarial para a Reciclagem – aponta que cerca de 85% da população brasileira não tem acesso à coleta seletiva de lixo. Esse número representa, nada mais nada menos, que quase 170 milhões de pessoas em nosso país.
A coleta seletiva tem um papel muito importante em nossa sociedade. Com ela reduzimos o número de resíduos sólidos no ambiente e o consumo de matéria-prima, uma vez que materiais como o alumínio, alguns plásticos, papel e papelão podem ser reaproveitados pela indústria. Este é um dos pilares do que chamamos “economia circular”, símbolo da reciclagem. Isso significa uma importante economia dos custos de produção e menor degradação do meio ambiente.
Outro fator relevante que deve ser levado em consideração nesse tema é a economia. Sim, dinheiro. A coleta e separação de resíduos, vulgo lixo, gera muitos empregos: coletores, separadores de resíduos, indústrias que trabalham com matéria-prima reciclada, entre outros. Esse é um importante mercado, muitas vezes, desprezado em nosso país. Você talvez deve ter ouvido a frase: “Há um tesouro escondido no lixo”. Se já ouviu esta sentença antes, saiba que ela não está longe da realidade.
Só para você ter uma ideia, estima-se que a economia brasileira perde cerca de R$ 120 bilhões anualmente em produtos que poderiam ser reciclados. Uma cifra considerável, ainda mais, levando-se em conta a atual situação econômica que vive o Brasil. Apesar de vir crescendo nos últimos anos, esse é um setor ainda pouco explorado no país, mas que pode ajudar o Brasil a sair da crise.
Mas então você deve estar se perguntando: “Mas se a reciclagem do lixo é tão lucrativa, porque existem tão poucas empresas trabalhando com isso no Brasil?”. Bem, a resposta apesar de fácil, não é simples e envolve vários fatores. Para começar, como o número de brasileiros que são atendidos pela coleta seletiva ainda é pequeno, isso encarece o processo e torna o material reciclado muito caro. A falta de incentivo do governo a essa atividade é uma das principais causas. Seria necessário que o governo se preocupasse mais em executar as políticas públicas por ele criadas, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), e gastasse menos dinheiro com campanhas eleitorais, auxílio-moradia a membros do judiciário, regalias a políticos. E, em contrapartida, gastasse mais com campanhas incentivando a separação do lixo.
A outra causa vai ao encontro da falta de incentivo por parte do governo e ajuda a explicar porque isso não acontece. Com a queda no preço do petróleo no mercado mundial, o plástico novo tornou-se tão barato, ou quase, quanto o produto reciclado. E com as questões logísticas dos resíduos reaproveitados, torna-se mais atrativo para as empresas comprar o plástico novo. No caso do nosso país, como a produção de petróleo vem de um monopólio estatal, incentivar a coleta seletiva e o uso de plástico reciclado vai contra os interesses do governo.
Já na Alemanha, temos um cenário completamente diferente do que vemos aqui. O país europeu recicla cerca de 50% do seu lixo. Sim, metade de todo o lixo produzido naquele país é reutilizada como matéria-prima na sua cadeia produtiva. As empresas que utilizam material reciclado possuem subsídios, o que estimula ainda mais essa prática.
Enfim, estamos muito longe da consciência ambiental e econômica alemã e de outros países. A coleta seletiva é muito falada no Brasil, seja nas escolas, ou faculdades, mas continua muito distante da sociedade. E na sua cidade, há coleta seletiva? Como ela é feita? Conte-nos, através dos comentários.
Diego D. Dias, biólogo, mestre em ecologia de biomas tropicais e consultor ambiental na Vellozia Estratégia e Consultoria Ambiental.
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