Uma jornada de muitos passos: O que o biólogo precisa para atuar na consultoria ambiental?

 

Foto tirada em Miguel Burnier, Ouro Preto. Ao fundo, Serra de Ouro Branco, MG.
Foto tirada em Miguel Burnier, Ouro Preto. Ao fundo, Serra de Ouro Branco, MG.

 

Se você já leu um número razoável de textos explicativos sobre como se tornar um consultor ambiental, perceberá que não há uma receita pronta. Conversando com profissionais da área, você irá se deparar com histórias muito diferentes entre si, o que, apesar de interessante, pode ser um verdadeiro pesadelo para um aluno de graduação ou um biólogo recém-formado. 


Parte disso é proveniente do fato de os cursos de graduação em Ciências Biológicas, em especial os das universidades federais, ensinarem pouco sobre o funcionamento do mercado de trabalho. Assim, os formandos saem de suas respectivas universidades sem saber como e onde atuar. Portanto, muitos de nós não sabem como vender os conhecimentos adquiridos durante nossa formação. 


O que você precisa entender é que, como em diversas carreiras, você deve usar os seus conhecimentos para obter clientes e resolver suas demandas. E é aí que entra a consultoria ambiental! Ela oferece conhecimentos técnicos para ajudar empreendedores a enquadrar seus negócios à legislação ambiental.


O consultor fornece pareceres sobre os impactos causados sobre recursos naturais, seres vivos e meio socioambiental. Para atuar como consultor, é desejável que você se especialize em uma dessas áreas: Flora, Fauna, Meio físico ou Socioambiental. 


Dessa forma, é importante que durante a graduação você experimente as diversas áreas de conhecimento das ciências biológicas e se especialize na que mais lhe atraia. 


Já me especializei, me formei e estou pronto! Como posso começar?

Você já escolheu a área em que deseja atuar e já adquiriu uma boa quantidade de conhecimento, então vem a pergunta: “Como entrarei no mercado de trabalho?”. Tanto para quem já se formou quanto para quem ainda está na faculdade, a minha dica é: busque por estágios ou trabalhos como auxiliar de campo, tanto em empresas de consultoria ambiental como através de profissionais que já atuem na área e que possam lhe dar uma boa oportunidade. Nessas atividades você ajudará pessoas mais experientes, o que te trará um bom aprendizado através da prática e também um necessário networking para impulsionar a sua carreira. Quanto mais cedo você iniciar essa busca, mais rápido terá chances de entrar no mercado de trabalho e de cultivar um bom workflow.


Confiança é tudo!

Agora que você já entendeu que a consultoria ambiental é uma área onde se usa dos conhecimentos adquiridos para resolver as demandas  de um cliente, você está pronto para o próximo passo. Entenda que, como em outros trabalhos, este é um mercado de confiança. O seu cliente precisa saber que pode contar com você, portanto não pegue serviços que você não dará conta de entregar e fique sempre atento aos prazos! 


Dicas de características e habilidades que você vai precisar.

Além dos conhecimentos técnicos, é importante que você tenha ou desenvolva algumas habilidades, como: 


  • Trabalho em equipe

  • Bom relacionamento interpessoal

  • Proatividade

  • Resiliência

  • Foco para cumprimento de tarefas e prazos

  • Visão ampla de tarefas e processos

  • Organização

  • Bons conhecimentos em informática

  • Boa comunicação verbal e escrita

  • Condução de veículos - Esse é um importante diferencial! Boa parte do nosso trabalho consiste em dirigir por longos trajetos e pode ser que você consiga uma vaga graças a isso.

     

Não espere saber de tudo no início, pois você vai aprender muito com a experiência. Só não deixe de buscar por essas características.


Nos próximos posts vou me aprofundar mais em alguns pontos e contar um pouco da minha experiência no dia-a-dia. 

 

Até o próximo artigo!

 

Diego D. Dias

Biólogo

Mestre em Ecologia de Biomas Tropicais 


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Um balanço do desmatamento na Amazônia no governo Bolsonaro.


A taxa de desmatamento da Amazônia aumentou no governo de Jair Bolsonaro, chegando a atingir o maior número já registrado desde 2006. Como veremos neste texto, dados oficiais do próprio governo federal, advindos de satélites que compõem os sistemas Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite) e Deter (Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real), controlados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), comprovam tal aumento. Como já esperado, com a política instaurada do “vamos aproveitar e ir passando a boiada”, o desinvestimento em órgãos fiscalizadores importantes como o Ibama e ICMBio, as desestruturações do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal) e do Fundo Amazônia, somados à impunidade aos infratores, incentiva as práticas de destruição dos biomas brasileiros, como a Amazônia. 
Atos como a instauração da portaria 151, também chamada de “Lei da mordaça”, instituída pelo Ministério do Meio Ambiente em 2021, proibiu que servidores do ICMBio falassem com a imprensa e publicassem textos científicos sem autorização prévia. Tal medida foi considerada uma censura contra a produção acadêmica e à opinião dos servidores, diminuindo assim a transparência do órgão ambiental. Além disso, antes mesmo de entrar no governo, Jair Bolsonaro já dizia que “o Brasil tinha áreas protegidas em excesso que atrapalhavam o caminho do desenvolvimento”, que “iria combater a indústria da multa do Ibama e do ICMBio” e “não iria conceder nem mais um centímetro de terras indígenas”. Dessa forma, houve uma sinalização para que o avanço desordenado da agropecuária, além de infratores como garimpeiros e madeireiros ilegais, continuassem destruindo a Amazônia cada vez mais.
    
Na penúltima medição feita pelo Prodes, de agosto de 2020 a julho de 2021, foi demonstrado um grande aumento da taxa de desmatamento na Amazônia, cujo número foi contabilizado em 13.235 km², o maior já registrado desde 2006 (14.286 km²), pelo Inpe. Quando analisamos o cenário a partir de 2004, com a criação do PPCDAm, houve grande redução do desmatamento na Amazônia. Principalmente de 2009 a 2018, houve uma queda expressiva que se manteve abaixo dos 8.000 km² (confira estes números no próprio site do Inpe). Nesse comparativo, percebemos que o enorme aumento do desmatamento detectado na Amazonia em 2021 foi um grande desastre. 

Já a taxa de desmatamento medida no período de agosto de 2021 a julho de 2022, 11.568  km², apesar de obter uma queda de 11% referente à penúltima medição, continuou com números alarmantes de florestas derrubadas (veja no site do Inpe), tendo a segunda maior taxa dos últimos 13 anos de medições. Em todos os anos do governo Bolsonaro, a taxa de desmatamento na Amazônia Legal, segundo o projeto Prodes, se manteve acima dos 10.000 Km² anuais. Para se ter uma comparação, a menor taxa foi atingida em 2012, com 4.571 Km², desde o início das medições em 1988.

Enquanto isso, os alertas de desmatamentos na Amazônia Legal, medidos pelo sistema Deter, bateram recorde de desmatamento em 2022, superando os 10.000 Km², uma devastação equivalente a uma área de quase 7 vezes a cidade de São Paulo. Esta área desmatada superou o maior número já registrado, em 2019, com 9.178 km², da série histórica que começou em 2015, quando os números completos anuais começaram a ser registrados.

O desmatamento gera vários danos como a degradação dos solos, extinção de espécies vegetais e animais, alteração dos regimes de chuva e do microclima local, comprometimento da provisão de serviços ecossistêmicos, dentre vários outros. Além disso, ele libera enormes quantidades de CO2 na atmosfera, o que intensifica o efeito estufa e aumenta a temperatura média global, possibilitando a crise climática, já presenciada nos dias atuais. Cabe ao novo governo reverter a crescente taxa de desmatamento nos biomas brasileiros, como a Amazônia, de modo a voltar a investir no poder de fiscalização dos orgãos ambientais competentes, além de punir exemplarmente a todos os infratores.

Danilo Vieira, biólogo e mestre em Ecologia de Biomas Tropicais. 
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